Nos diversos contextos de atuação, o POCUS assume-se como um valioso aliado do
internista do século XXI.
No meu dia-a-dia em Medicina Interna, num hospital periférico, a centenas de quilómetros de distância de outras subespecialidades médicas em hospitais centrais. Utilizar POCUS, significa realizar um exame objectivo inovador, que me permite maior assertividade diagnóstica e melhor orientação do doente.
POCUS na abordagem ao doente
Seja na sala de emergência, na estratificação de gravidade de um TEP; seja na abordagem do doente dispneico que recorre ao serviço de urgência, em que o POCUS permite distinguir facilmente a causa do sintoma; seja na enfermaria, onde esta técnica permite a monitorização diária de um derrame pericárdico. Poderia facilmente continuar a lista de exemplos em que o POCUS me aproxima com rapidez do diagnóstico dos meus doentes, da gravidade associada aos mesmos e da melhor estratégia terapêutica. Nesta especialidade, a abordagem dos doentes implica muitas vezes uma discussão multidisciplinar, que também ela se torna mais profícua com o contributo desta técnica. Na maioria das vezes não tenho à disposição um ecocardiograma formal de forma rápida, mas posso ter uma avaliação qualitativa de função cardíaca, ou uma avaliação morfológica valvular. Esta informação permite ter uma proximidade diferente com outras especialidades e com outros centros.
Talvez a medicina em 2022 tenha poucas inovações que possam verdadeiramente ser adjetivadas com a palavra proximidade. Para mim, o POCUS é a exceção.
Não poderia deixar de falar da componente humana inerente à realização de ecografia à cabeceira do doente. É um momento de contacto, em que se constrói uma relação médico-doente mais próxima e que muitas vezes os próprios valorizam.
Posso dizer que o meu percurso na Medicina Interna se fez acompanhar desde cedo pelo POCUS e a verdade é que, à medida que vou dominado melhor esta técnica e percebendo o seu impacto na abordagem dos doentes, acredito que o futuro da formação na especialidade deve necessariamente integrar esta componente.
Enquanto entusiasta desta prática, espero que no futuro, o POCUS possa ser uma prática disseminada na comunidade médica, que seja vista como um elo de ligação entre especialidades.
Em suma, é necessário que os serviços percepcionem a potencialidade desta abordagem e se capacitem de tecnologia que nos permita desenvolver POCUS no presente e aproximar a medicina de uma abordagem mais segura, mais eficiente e mais humana num futuro próximo.