Os métodos imagiológicos não invasivos podem ter um papel importante nos cuidados paliativos modernos, no controlo sintomático e na abordagem de intercorrências agudas. A utilização do POCUS tem vindo a aumentar nos últimos anos e as suas características tornam-no uma ferramenta útil no diagnóstico e terapêutica em cuidados paliativos, nomeadamente em equipas de apoio comunitário bem como responder a questões clínicas dirigidas, com o objetivo de orientar a abordagem clínica. A melhoria significativa da sobrevivência e da qualidade de vida nas doenças malignas e não malignas levou ao envelhecimento da população, que vive com doenças crónicas avançadas e frequentemente recorre aos serviços de saúde.
Os factos
O espectro dos doentes que necessitam de cuidados paliativos é vasto, e sendo a doença oncológica uma das maiores parcelas (34%), ainda assim ocupa menos do que as doenças cardiovasculares (38.5%), e a preencher o contínuo temos uma considerável proporção das Doenças Respiratórias Crónicas, da SIDA e da Diabetes mellitus (1).
Como Consultor de Medicina Interna que dedica grande parte do seu tempo no Serviço de Urgência, a realidade do doente em sofrimento que necessita de cuidados paliativos esmaga muitos dos meus sonhos em querer prestar os melhores cuidados aos doentes e é fonte considerável de burnout nos profissionais de saúde (2).
À medida que fui amadurecendo o meu conhecimento médico, a realidade suplantou muitas das “ilustrações médicas” de parca qualidade, mas a área dos Cuidados Paliativos foi talvez a mais alienada de tudo aquilo que aprendi nos primeiros anos de formação médica.
O upgrade
Mas há evidência de mudança, para melhor com o reconhecimento por parte da Organização Mundial de Saúde do problema da falta de acesso a Cuidados Paliativos na maior parte do planeta, bem como o crescente aumento de programas sólidos de formação quer no pré-graduado como no pós graduado, tem mudado muito o paradigma de tratar o doente paliativo(Figura 1) (3).

Figura 1: A mudança de paradigma na intervenção em cuidados paliativos (a partir de Wang, 2016).
Passei a encarar com mais optimismo o que já se pode fazer em prol do doente que necessita de Cuidados Paliativos, ao ter aprendido com um grupo de internos brilhantes de Medicina Interna no programa de Ecografia à Cabeceira do Doente (POCUS) no Serviço de Urgência do Hospital de Braga, muitas novidades na área da Medicina Paliativa. Este grupo de internos levantou vários dos problemas que os doentes terminais enfrentam nos Serviços de Urgência sobrecarregados e focados em POCUS fizemos uma revisão narrativa da sua aplicação nos Cuidados Paliativos, que podem ler aqui Palipocus: Aplicação de POCUS nos Cuidados Paliativos (4).
Uma das grandes lições que tirei:
Não há cuidados paliativos sem cuidar do doente à cabeceira, e não é POCUS a tecnologia que nos faz aproximar do doente?
Leiam e não percam a mão em POCUS pois ao fazê-lo é uma oportunidade única de dar a mão aos doentes quando eles mais precisam.
Referências:
1- Palliative Care. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/palliative-care
2 – Horn DJ, Johnston CB. Burnout and Self Care for Palliative Care Practitioners. Med Clin North Am. 2020 May;104(3):561-572. doi: 10.1016/j.mcna.2019.12.007. Epub 2020 Mar 2. PMID: 32312415. https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S002571251930152X?via%3Dihub
3 – Wang DH. Beyond Code Status: Palliative Care Begins in the Emergency Department. Ann Emerg Med. 2017 Apr;69(4):437-443. doi: 10.1016/j.annemergmed.2016.10.027. Epub 2017 Jan 26. PMID: 28131488. https://www.annemergmed.com/article/S0196-0644(16)31333-6/fulltext
4 – Egídio de Sousa I, Monteiro M, Valente T, Santos A, Fiuza T, Pacheco Mendes A, Soares R, Teixeira J, Mariz J. Palipocus: Aplicação de POCUS nos Cuidados Paliativos. RPMI [Internet]. 23 de Junho de 2022 [citado 28 de Julho de 2022];29(2):140-8. Disponível em: https://revista.spmi.pt/index.php/rpmi/article/view/651